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segunda-feira, 25 de julho de 2011

25 DE JULHO - DIA DO ESCRITOR

THALITA REBOUÇAS

 
Há algumas semanas, Thalita Rebouças alcançou uma marca impressionante a que poucos escritores brasileiros chegaram: um milhão de livros vendidos . Autora da série "FALA SÉRIO", sobre o universo adolescente, ela conquistou um montão de fãs no Brasil e até em outros países.

"___ Sempre gostei de inventar histórias.desde pequena sou do tipo que conta um conto aumentando um ponto. Ou vários. Escrevi vários livrinhos quando tinha 10, 11 anos, e sempre tive diários. Mas só com 25 anos tive coragem para lançar o primeiro livro. Não parei mais."

Para você que tem o sonho de, como Thalita, escrever seus próprios livros, ela dá uma dica:

"___ Leia muito. Sempre. Quanto mais a gente lê, melhor escreve."

Em comemoração ao DIA DO ESCRITOR,  Thalita Rebouças  criou  um conto exclusivo para o Globinho. Boa leitura!




Um dia  inesquecível
por Thalita Rebouças
       

Domingo nublado, dia perfeito para se esparramar no sofá e esperar o FlaXFlu. Acordei, confeço,  já sonhando como meu Fluzão, que certamente ganharia de lavada dos rubro-negros. Ô, dia feliz.
­­_____ Pai, vamos visitar a Bienal do Livro?  - pediu Malu, a minha primogênita.
_____ Não, querida. Hoje é dia de jogo. Fala com a mamãe. Isso é coisa pra mamãe.
_____ Mamãe uma ova! Tá louco! É coisa para a mamãe, para o papai e para os queridos irmãos. Programa para a família toda. TO-DA! – esbravejou Angela Cristina, minha sempre doce esposa
A família toda naquela feira lotada? Uma criança de oito anos, outra de seis e uma de cinco andando por aqueles intermináveis pavilhões? E o meu jogo?
_____  Armando, o jogo é à tarde, dá tempo de ir à Bienal e voltar pra ver essa porcaria – disse Angela.
_____  Na boa, pai ver o jogo pra quê?! O Flamengo ganha sempre, você precisa se acostumar.
____Malu, meu amor, quando a gente não é Flamengo, a gente torce contra. Papai já não explicou mil vezes?
____  Mas eu gosto do meu time, o Botafogo e do Flamengo.
____ Não    existe isso, Malu! __ gritei, sem paciência para tamanha falta de cultura futebolística. Tadinha, ela era só uma pirralha de oito anos. Como é difícil ser pai – Não, não chora, vem cá, o papai é um idiota mas te ama tanto... Desculpa...
____ Desculpo só se você for pra Bienal comigo.
Droga! Criança esperta!
____ Tá bom. Mas às quatro eu tenho que estar em casa hein?
____  Ebaaaaa!!!  __  gritou a minha menina.
Levamos mais ou menos uma hora e meia para sair de casa (mulheres demoram pra se arrumar desde pequenas). Pegamos o trânsito para ir, engarrafamento no estacionamento, fila para comprar, fila para entrar. E ainda dizem que brasileiro não lê. Tá bom!
Os meus filhos ficaram boquiabertos diante de tantos livros. Deu orgulho.
___ Quero este, este, este aqui também! __ gritavam os três, sem parar, já no primeiro estande que visitamos.
Deu pena do meu bolso, mas tudo bem. Gastar com livros dá muito mais prazer do que gastar com joguinhos, equipamentos eletrônicos  e afins.
___ Todo mundo já comprou tudo o que   queria? __ perguntou Malu, depois de uma hora.
___ Acho que sim, por quê? __ Quis saber Angela Cristina.
___ Porque chegou a hora de ver o Ziraldo. Vamos?
Ah, que graça. A Malu estava encantada com o Menino Maluquinho. Ela tinha adorado o livro do personagem com a panela na cabeça. Não via a hora de conhecer o escritor que inventara o tal menino. Quase chorei.
Fomos ao estande onde Ziraldo autografava e quase chorei de novo. A fila estava grande, dava voltas. Centenas de pessoas esperavam por uma assinatura do pai do Maluquinho.
___ Filha, Você não vai querer entrar nessa fila gigante, né?Hoje tem jogo, jogo importante! E essa fila vai durar umas duas horas, no mínimo!
___ Mas eu quero falar com ele!
___ Hoje não vai dar. A gente passa na frente dele, papai levanta você, e você dá tchau. Combinado!
___ Não! Eu preciso falar com ele!
___ Falar o quê? O que você acha que tem pra falar com Ziraldo?
___ Buáááá!
___ Armando! Olha o que você fez! Fila com choro ninguém merece! __ brigou Angela Cristina já se encaminhando com a prole para a fila quilométrica.
Tremi, suei frio. Eu não podia perder o jogo. Era importantíssimo!
Mas o que a gente não faz pelos filhos?
Ficamos na fila por duas horas e trinta e sete minutos. Eu estava exausto, já sem esperança de ver o jogo e, admito, com um pouco de ciúme do Ziraldo. Afinal , mesmo sem nunca tê-lo visto pessoalmente, Malu nutria por ele um amor quase incondicional.
Chegou a hora. Os olhinhos da minha filhota brilharam ao ver de perto aquele senhor simpático, de colete colorido e cabecinha branca. Ela estava tão feliz. Tão feliz...
___ Realizei meu sonho __ comemorou, depois de ganhar   autógrafo e beijo do seu escritor preferido __Vamos para casa ver o jogo, papai?
___ Jogo? Que jogo? __ brinquei, ainda extasiado com a alegria que havia proporcionado para minha filha.
___ Desistiu do jogo? Ebaaa! Então vamos ver a Ana Maria Machado, ela está aqui também!  __  berrou Malu empolgada que só ela.
___ Depois vamos ver o Pedro Bandeira.
___ Esse eu não conheço, mamãe.
___ Mas vai conhecer. E vai se encantar  __ adiantei.
No dia seguinte,  cheguei cedo ao trabalho.
___ Como foi o seu domingo? __ perguntei a um colega na redação do jornal em que eu trabalhava.
 ___ Uma lástima! Fui a um show de banda pop. Gastei dinheiro, peguei fila, aturei gritos histéricos e ouvi música ruim. Muita música ruim. E o seu? Viu o FLAXFLU?
___ Que nada! Passei a tarde com meus filhos na Bienal do Livro. E descobri que eles não idolatram bandas, muito menos artistas de tevê. Os ídolos deles são escritores __ disse todo orgulhoso __ Quer coisa melhor que isso?




Fonte:  Globinho - 23.07.2011

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