Um pouco da
história da literatura infantil
brasileira.
Monteiro Lobato e a literatura infantil, um marco histórico
Hercília Maria Fernandes, em trabalho
apresentado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, afirma que coube a
Monteiro Lobato a tarefa de instaurar o “divisor de águas” que separa o Brasil de ontem e o Brasil
de hoje.
Ao fazer a herança do passado vigorar
sobre o seu tempo, Lobato alcança “o caminho criador de que a literatura
infantil estava necessitando”. Rompe, pela raiz, com as convenções
estereotipadas e abre as portas para as novas ideias e as novas formas que o
século passado exigia.
O autor estreia no gênero infantil em
1921, com a obra A Menina do Narizinho
Arrebitado, que abre caminhos para uma série de publicações de livros infantis,
todos com ampla aceitação do público infantojuvenil, em torno da turma do Sítio
do Pica-Pau Amarelo.
Com certo tempo e enriquecimento do
fabuloso mundo lobatiano, o Maravilhoso passa a compor normalmente o Real e, em
lugar de se tornar inverossímil, se “des-realizando”, o processo acaba sendo o
contrário, isto é, “o inventado passa a ter foros de realidade”. Lobato,
rompendo com os modelos extraídos da Europa, enfatizava a necessidade de se criar
uma literatura infantil nacional em que as crianças pudessem “morar”. Em suas
palavras:
“Ando com ideias de entrar por esse caminho:
livros para crianças. De escrever para marmanjos já enjoei. Bichos sem graça.
Mas para as crianças um livro é todo um mundo.
Lembro-me de como vivi dentro do
Robinson Crusoé, de Laemmert.
Ainda acabo escrevendo livros onde as crianças
possam morar.
Não ler e jogar fora, sim morar, como morei no Robinson e n’Os
Filhos do Capitão Grant”.
E Lobato fez muitas crianças morarem em seus
livros, a partir dos anos 1920. Sua obra resiste às mudanças do tempo,
alcançando a qualidade da eternidade. Desde 1926, o escritor teve seus livros
traduzidos em vários países, entre eles: Alemanha, Argentina, Espanha, França,
Síria; o que comprova que Lobato conseguiu unir ingredientes que permitiram a
eternidade de sua criação. A fórmula é composta a partir da fusão da essência humana
e universal com a sua busca pelo nacional, o que possibilita a passagem de suas
obras para além-fronteiras do país e faz com que milhares de crianças habitem o
fantástico mundo do Sítio do Pica-Pau Amarelo.
A repercussão chega aos dias atuais, já
que a turminha do Sítio voltou a morar na tela da televisão brasileira no
início do século XXI.
A obra lobatiana na área infantil é vasta, engloba
livros originais, adaptações e traduções. Nas publicações originais, destacam-se,
além de A Menina do Narizinho Arrebitado,
O Saci (1921); Fábulas e O
Marquês de Rabicó (1922); A Caçada da Onça (1924); A Cara de Coruja, Aventuras do Príncipe,
Noivado de Narizinho e O Circo de
Cavalinho(1927); A Pena do Papagaio
e O Pó de Pirlimpimpim (1930); As
Reinações de Narizinho (1931); Viagem ao
Céu (1932); As Caçadas de Pedrinho e Emília no País da Gramática (1933);
Geografia de Dona Benta (1935); Memórias de Emília (1936); O Poço do Visconde (1937);
O Pica-Pau Amarelo (1939) e A Chave do Tamanho (1942).
As obras de Lobato, constituídas por narrativas
aventurescas, desenrolam fatos fascinantes, personagens e celebridades que se originaram
da criatividade lobatiana e na memória dos tempos, seja através da história, da
tradição oral, das lendas e/ou dos mitos. Essa mistura de imaginário, conhecimentos
e heranças histórico-culturais da humanidade expressa a originalidade da obra
de Monteiro
Lobato, que busca redescobrir realidades
estáticas, cristalizadas pela memória cultural, e dar-lhes nova vida, em meio
às reinações do pessoal que vive no Sítio.
Fonte: Turma da Biblioteca/Multirio
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